terça-feira, 24 de setembro de 2013

O vento



Uma vez me apaixonei por um cara. Era a situação perfeita de algo que jamais daria certo, mas como sempre, essa idéia me atraiu. Ele era muito mais velho, morava em outro estado, tinha uma doença complicada. Ingredientes perfeitos para um drama típico de séries americanas. Como boa ariana, me joguei de cabeça e também como era de se esperar, algum tempo depois ele se tocou que jamais conseguiria algum consentimento da parte de meus pais e veio com aquele papo (que não exime a veracidade do mesmo) "você vai ficar melhor sem mim". 

Fiquei muito mal, foi uma das épocas mais obscuras da minha vida. Chorava todos os dias, não dormia a noite, não prestava a atenção nas aulas, me isolei das minhas amigas, me isolei de todos que conhecia. Meu dia se resumia a ir a escola, voltar pra casa, ir para o computador stalkeá-lo, ouvir música de fossa, dormir, chorar, escrever, chorar, stalkeá-lo novamente, e ficar a madrugada toda acordada. Nesta época, eu devia ter uns 100 anos de idade.

Foi díficil, porque eu era uma adolescente e guardei tudo só pra mim, não contei pra ninguém. Eu ficava triste, e alimentava essa tristeza, porque achava que isso me prendia a ele. Eu não queria deixar ele ir embora da minha vida, sem perceber que ele já tinha ido, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Mas era uma ilusão muito forte, achava que nosso destino era ficarmos juntos e não queria abandonar isso por nada no mundo. Sempre que vejo a cena da Bella em Lua Nova, assim que Edward vai embora, me apego muito a semelhança dessa época. Mas o fim da minha história, óbviamente, é mais real e bem diferente da história de Stephenie Meyer.

Eu acho que esqueci de mencionar que ele começou a namorar uma amiga. Num certo dia ele me contou que gostava dela, e ela que gostava dele. Foi como uma série de socos no meu coração, mas eu não queria ser uma barreira para os dois. Engoli com toda força do mundo meu orgulho e disse "Go on" para os dois. Cada dia eu morria por dentro ao ver os dois, mas ao mesmo tempo estava feliz de vê-los felizes. Era muito louco o que eu sentia, mas não deixava nem sob decreto transparecer nada para os dois. 

Me envolvi com outra pessoa para tentar esquecê-lo, que é a coisa mais egoísta do mundo, mas àquela altura, eu precisava me obrigar a isso. Foi bom, mas a sombra dele jamais saía de mim. Era só conversármos novamente e as emoções ficavam a flor da pele.

Se passaram dois meses e eu estava "aguentando" até ali. Até que uma tarde, eu não consegui mais segurar. Talvez tenha sido a playlist que escutei, "Never ever", "You and Me", " Miss you". Não sei, a única coisa que sei é que desmoronei nesse dia. Liguei para ele e falei tudo que foi obrigatoriamente empurrado pra debaixo da garganta. Chorava compulsivamente, foi horrível. Depois dessa tempestade toda, ele foi obrigado a cortar relações comigo por conta de sua namorada, aquela que era minha amiga. Eu aceitei prontamente, já que sabia que se não pudesse ficar com ele, a melhor opção pra mim também era ficar muito longe dele. Assim o fizemos. Conversei com o garoto que eu me envolvi, expliquei toda a situação e demos um tempo. Ele aceitou, percebeu toda a minha tristeza, foi muito gentil . Quando penso nele sinto uma certa ternura por saber o quanto ele foi legal considerando o quão puto ele poderia ter ficado na época.

Foi díficil, o final do ano foi totalmente depressivo. Por isso, em Janeiro decidi viajar. Fui para a casa de uma amiga no interior de São Paulo. Não fiquei sozinha, mas fiquei ao lado de pessoas muito divertidas e pude aproveitar para fazer coisas que perdi com a tristeza naqueles meses, como sair para ir à lanchonete com os amigos, assistir filme de terror madrugada a fora e sair para dançar. Quando voltei pra São Paulo, fui com meus pais à praia. Foi perfeito. Sem internet, sem telefone, só eu e o mar. Eu tenho uma ligação muito forte com o mar, que não sei explicar. Mas se estou mal, só o fato de olhar para o mar me deixa muito melhor, é como se eu jogasse todas as energias negativas pra ele levar embora. Perco uns 5 kg de negatividade toda vez que vou à praia. Voltei para casa, e foi meio difícil encarar toda a realidade, mas estava mais leve, então foi mais fácil evitar os "sad-habits" que alimentava antes. Mas, como sempre o drama ronda a minha vida,  e ele veio então me procurar. Pediu uma foto minha e disse que me deixava em paz depois disso. Isso é a pior coisa que alguém que você está tentando esquecer faz, porque acende uma esperança filha da puta em você, desnecessária, e que vai te jogar no chão depois. Mas, mandei a foto. Dois dias depois a namorada dele estava me xingando, me ameaçando, pediu para uma amiga em comum que trabalhava na empresa da minha internet banda larga para cancelá-la (sim, ela pediu para cortar meu speedy), me difamava nos blogs e flogs da vida. Minha vida se tornou um mini inferno. 

Eu comecei a namorar outra pessoa, e as coisas acalmaram, cada um ficou na sua. Mais ou menos 1 ano depois fui stalkeá-lo num momento de curiosidade. Eles haviam se casado e ela estava grávida. Ele estava muito feliz, sempre foi um sonho para ele se casar, formar uma família.  Mas num golpe duro do destino, quando ela estava com dois meses de gravidez, ele faleceu. Sim, ele teve uma crise de sua doença e veio a falecer no hospital. Eu soube da notícia por ela, e posso dizer que foi um dos dias mais tristes da minha vida, por duas razões. Primeiro, o óbvio, a vida do cara que eu me tornei prisioneira por ter me apaixonado loucamente, havia terminado, tão cedo, tão concretamente. Segundo, ele deixou a esposa grávida. Não é preciso mais explicações depois disso.

Toda essa minha história com ele, foi muito intensa e terminou de uma forma bem dramática, sem exageros. Eu era muito ingênua e imatura, isso contribuiu muito para que eu sofresse tanto quanto sofri. Mas eu tirei de tudo isso muitas lições, que foram essenciais para que eu pudesse amadurecer emocionalmente:
  1. Não há dor ou tristeza, que seja tão grande a ponto de te derrubar, se você não quiser.
  2. Ele não era o cara certo, e eu tive todos os sinais do mundo para me mostrar isso, quem tapava meus olhos eram as minhas próprias mãos.
  3. Não vale a pena alimentar mágoa nenhuma. Sempre que sofrer alguma decepção, deixe a mágoa pra trás. Não tem preço sua saúde mental e emocional.
  4. A vida tem data de validade, só que diferente de produtos não podemos saber qual é esta data. Ele, faleceu em o que pareceu mais uma crise de sua doença. Ninguém imaginava. Portanto, não perca tempo com bobagens, com tristezas, com picuinhas, com brigas, com desamores. Vá atrás do que te faz feliz, todos os dias. 
Ás vezes penso que ele passou na minha vida só pra ensinar tais lições. Jamais vou esquecer, e o agradeço muito por isso. Pois é, por isso não devemos ter medo de errar ou fracassar, porque talvez seja preciso derramar algumas lágrimas para enxergar melhor o que pode te fazer sorrir.

Crédito fotos: Tumblr.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Amanda, cresça - Parte 4: O trevo.


E Amanda se perguntou naquela tarde: "O que estou sentindo, é real!?" Não havia como ter certeza. Seu coração balançou, sentiu a recaída vir de longe cavalgando em tua direção. Ela havia conhecido um rapaz. Não era "apenas um rapaz", era "ele". Aparentemente, ele tinha muitas das qualidades da qual Amanda presava em um companheiro. Inteligente, engraçado, belo sorriso. Muitas conversas depois, e ela descobriu um rapaz muito tímido e muito de tudo aquilo que Amanda vinha procurando.

Mas, e a recaída? Mas, e o "não quero me envolver agora porque acabei de me machucar muito"? Ela não poderia ter certeza, com tanta incerteza. Resolveu jogar todas as cartas para descobrir. Ele, o frio, era dele a recaída. Pois sem mais, nem menos, ela o beijou. Sim, beijou. Mas, e o rapaz? Calma, tudo tinha uma razão. E Amanda quando acabou, percebeu toda a razão escondida naquele beijo. Todo e qualquer tipo de sentimento que ela achava que mantia por aquela pessoa gelada, se esgotou, e a única coisa que veio à sua mente naquele momento foi: Bernardo. E antes mesmo que pudesse respirar, palavras vieram à sua boca: "Me desculpe, mas eu conheci uma pessoa, e eu estou gostando muito dele e portanto, de tão maravilhoso, eu não quero magoá-lo de nenhuma forma, então te digo que este beijo, justamente o beijo, marca o fim de tudo, o fim", E o ponto final foi quase como um desmaio.

É claro que a pessoa tão fria não iria aceitar facilmente. Ele não sairia por baixo da situação, não poderia magoar teu próprio ego. Mas nada, nada disso afetou o sentimento de Amanda, que abriu todo o seu coração à Bernardo.


Dia vinte e três de Janeiro, sábado, 15horas. Primeiro encontro. Amanda acordou naquele dia 1 hora antes do despertador, chegou ao local de encontro 1 hora e meia antes do combinado. Havia em sua testa um suor frio irreconhecível "O que é isto Amanda? Você nunca ficou nervosa assim para encontrar ninguém, se controla gata, qualé!?" Qualé é? Verás. Quando ela avistou Bernardo, o mundo perdera o sentido. Ele estava lindo, com um estilinho rebelde-arrumado. Amanda curtiu isso. Ele estava chegando, e as pernas de Amanda pareciam tremer mais que o chão movido pelo trem. Aliás, foi um lugar bom de se escolher, na estação, assim pôde desfarçar como tremia.

- Oi amor  - Ele a cumprimentou fofamente com um beijo no rosto e um abraço, apesar do nervosismo estar aparente.
- Oi pessoinha - Amanda respondeu se sentindo a pessoa mais idiota do mundo "tanta coisa pra falar e você me vem com Oi pessoinha? Meu Deus Amanda, esse é o seu primeiro encontro? Você tem 12 anos?".

Amanda sentiu todo seu corpo mexer, num ritmo lento e gostoso e, ao mesmo tempo, escutar todas as sinfonias mais lindas do mundo. Seu coração não parava de pular, era como se quisesse sair do peito só pra dizer pra todo mundo que ali passava apressado: "Eeeei psiu, todo mundo, eu estou apaixonadaaa". Como se nada daquilo estivesse acontecendo dentro dela, ela olhou para ele serenamente. Caminharam juntos, lado a lado. Amanda sentiu um frio da barriga até à cabeça quando ele pegou em sua mão. "É fato, você parece uma adolescente apaixonada, sua boba!". E o que mais intrigava Amanda, é que há um mês atrás passara pela mesma situação, porque não sentiu essas coisas bobas de adolescente?

Caminharam um pouco até pararem perto de uma árvore. Seus olhos se encontraram, as mãos de Bernardo surgiram em sua cintura. Não houve momento menos ou mais perfeito, o beijo aconteceu. Amanda nunca sentira nada igual. Sentiu o chão desaparecer sobre seus pés, sentiu o céu ficar mais perto. "Estou morta?" "Não, boba, você está nas nuvens". Era amor, com toda certeza. Certeza que Amanda há pouco não tinha nenhuma. 



Amanda viveu muitos percalços amorosos. Seu jeito de pensar e agir sempre foram um problema. Impulsiva, romântica e de coração gigante: uma mistura no mínimo complicada. Ela sabia que tinha que mudar pra poder viver um novo e grande amor, como esse do qual Bernardo trazia no peito. Resolveu aprender as lições que o destino estava a proporcionando. Com ele, seria tudo diferente. E foi. Desde o começo, com olhares, toques, palavras. Amanda nunca havia vivido um amor com esse. Era até surreal.

Um ano se passou, Amanda e Bernardo ainda estão juntos, namorando, e fazendo seus planos. Todos, exatamente todos que a conhecem há pelo ao menos 3 anos, se aproximam com a mesma frase: "Amanda, como você mudou, parece mais feliz". E estava. Frases como essas ditas por pessoas das quais Amanda amava (e também das que não amava) a fazia se sentir tão orgulhosa e pensar: "Realmente, a sorte anda comigo agora".


Bom aqui acaba os contos Amanda, cresça. Espero que os que lêram tenham gostado, e os que ainda vão ler gostem também. Foi feito de coração e qualquer semelhança, é pura coincidência (rs). 

Crédito fotos: Weheartit e Tumblr.