segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eu desabafo, tu desabafas, ele desabafa, ....



Existem sentimentos que devem ser guardados bem no fundo, lá, bem escondido. Porque? Porque não há necessidade de mexê-los agora. Não é a hora certa. Porque há coisas que não devem ser ditas, há coisas que não precisam nem ser pensadas. Basta uma simples fagulha pra transformar tudo em fogo. Não gosto disso. Eu, apesar de ser sempre a conselheira do grupo e de todas as minhas amigas me considerarem uma mãe, nunca tive facilidade de falar sobre mim. Era natural pra mim captar o que elas estavam sentindo, transferir isso pra mim e depois passar a elas, mas não era natural eu falar sobre as coisas que eu estava sentindo, ou coisas que estavam me acontecendo. Achava mais simples ouvir do que falar. Foi díficil no momento em que eu virei uma adolescente como todas as outras: cheia de problemas. Eu simplesmente não conseguia liberar aqueles sentimentos que estavam me sufocando. Minhas amigas não ligavam muito, mas a minha melhor amiga ficou muito preocupada e logo tomou um jeito de me reeprender:

' Tata, por favor, eu quero que você desabafe comigo.'



Não conseguia. Minha válvula de escape era escrever. Digo escrever, e não blogar, porque não escrevia só na internet. Tinha milhares de cadernos dos quais depositava meus longos e melancólicos desabafos adolescentes, como cartas pra mim mesma, como estou fazendo agora. Foi uma época díficil, vivi noites de insônia e aulas sonolentas, meu rendimento na escola caiu, a professora chamou minha atenção e fiquei com medo de repetir o ensino médio. Fiquei triste, depressiva, um peso vagando pelo mundo. Minhas amigas, muito boas, notaram e fizeram uma intervenção. Foi muito engraçado, mas fiquei muito feliz que elas tentaram aquilo por mim. Não conseguia desabafar porque era aquela típica adolescente que acha que era a incompreendia. 'Ninguém vai me entender' - repetia na minha mente sempre. Isso não é bem uma mentira, mas também não é uma total verdade. Há pessoas e pessoas. Algumas podem até não entender, mas vão se esforçar muito. Outras vão torcer o nariz e nem vão fazer um esforço se quer. E poucas, mas muito poucas, vão realmente te entender. Com essa situação aprendi que se pode ter muitos amigos, mas só vai sobrar um ou dois pra sempre. Mas isso é uma história pra mais pra frente, cês vão entender.

Mas bem, depois da intervenção, voltei ao meu estado normal - se é que isso era possível - e me formei normalmente aos 17 anos. Mas a minha insegurança quanto as pessoas ao meu redor continuou. Conheci novas pessoas, novas amizades. Fiz um curso e tive a oportunidade de conhecer amigos maravilhosos, dos quais me senti um pouco mais a vontade pra falar da minha vida, mas aprendi mais uma lição. Há um tipo específico de 'amigo' do qual você deve fugir sempre que entrar em um grupo novo: o narcisista/egocêntrico. Esse só quer ter você ao lado para 1.escutar as bobagens que ele vive em seu dia-a-dia ou inventa só para dizer que ele é o fodão, 2. para  você dizer o quanto ele é bonito, legal, gostoso, ótimo amigo, e 3.para mostrar pro mundo que ele tem amigos que o veneram. Você não pode e nem deve tentar desabafar com esse tipo, ele além de te interromper no meio da fala, ele poder ser mais cruel ainda e deixar você terminar, pra que logo em seguida ele mude totalmente o foco da conversa para ele, 'ah, mas eu, eu, eu, eu'. Um conselho? Caia fora dessa, urgentemente. Prossegui com minha insegurança ao desabafar.



Depois do curso, foi a vez da faculdade e meu então namorado da época era também, meu colega de sala. Sem explicações maiores, minhas amizades ficaram restritas ao meu namoro, não era legal e não recomendo para ninguém. É óbvio que há exceções, vejo muitos casais felizes assim, mas como eu já passei por isso, dou a minha visão do negócio, e a minha opinião é essa, just ain't gonna work out. Pois bem, meu namoro acabou, estava super mal, e cadê a amizade e a confiança para que eu pudesse desabafar nessa hora? Recorri, óbviamente a minha linda melhor amiga, aquela ali em cima que escreveu em uma carta 'por favor, por favor, desabafe comigo'. Fomos almoçar juntas no domingo, como sempre, e coincidentemente ela havia terminado o namoro também. Para resumir, fomos bobas e sacaneadas por muito tempo pelos ex's. Quando uma começou a desabafar para outra coisas que jamais havíamos desabafado em mais de 5 anos de amizade, ficamos abobadas. Rimos muito de nossa estupidez, tanto quanto aos namoros como quanto à nossa amizade. 'Idiotas', repetiamos sem parar de rir. Foi aí que eu percebi que 1.os bons amigos simplesmente te entendem, não importa se você tem facilidade para desabafar ou não, 2.o seu melhor amigo além de te entender, ainda vai cometer a mesma cagada que você para que possa te xingar e se xingar ao mesmo tempo, e no fim vocês dois darão boas risadas a tarde toda, como nós.

A conclusão que eu tiro disso tudo é que nem tudo deve ser compartilhado para qualquer pessoa. Há coisas que nem mesmo devem ser compartilhadas com ninguém. Não é falta de confiança, mas é que no final, são poucas as pessoas que estarão de verdade ao seu lado. Portanto, é bem melhor que só estes saibam sobre seus medos e sonhos. Nesse novo mundo de redes sociais, isso é um tremendo desafio, mas no final é tudo uma questão de experiências e escolhas. Há quem aprenda do modo mais fácil, e há quem aprenda do modo mais díficil. Mas sigo sempre um conselho da minha mãe 'Você não perde por ficar quieto'.

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